Por Thiago Vasconcelos
email: thiagovasc@gmail.com
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31/10/2009 - AVISO: Desde que esta coluna foi escrita, mudei em alguns pontos minha opinião a respeito das cotas raciais. Isso porque quando escrevi levei em conta apenas negros/pardos que de certa forma não tiveram problemas para ter acesso a educação e mercado de trabalho, mas descobri que o que acontece com a maioria dos negros/pardos é bem diferente do que acontece comigo e com outros negros/pardos próximos a mim. O texto com minha posição atual a respeito do tema está abaixo do texto original da coluna, que não foi modificado.
Hoje fiz minha inscrição para o vestibular da UFMG. Durante o processo, me bateu uma tremenda dúvida. No formulário tinha a opção de se auto-declarar negro ou pardo para ganhar direito a um bônus de 15%. Eu me considero pardo. Sou fruto de uma miscigenação racial, pai branco, mãe negra. Mas preferi não me auto-declarar. O motivo: NÃO SOU INFERIOR A ALGUÉM POR SER PARDO OU NEGRO.
A luta pela igualdade racial perlonga há séculos. Pessoas engajadas na luta contra a ignorância, quebrando barreiras culturais fortíssimas que desde o período colonial colocam o negro como inferior, somam mais e mais vitórias contra a separação por raças. A vitória de Obama é um exemplo. A imagem abaixo mostra em 1940 que nos EUA os bebedouros eram separados entre os negros (colored) e brancos (white), e hoje o país é comandado por um negro.
Porém, a luta pelo fim da segregação racial ainda não acabou, e é triste ver alguns negros, muitas vezes que se dizem defensores da igualdade racial, se separando dos demais no sistema de cotas. As cotas segregam, é fato. Elas representam um retrocesso na luta pela plena igualdade. Não é o melhor caminho para solucionar um erro do passado, quando os brancos tinham benefícios perante os negros, dando benefícios hoje para os negros frente aos brancos. Isso porque do mesmo jeito que no passado, a separação por raças continua.
O tão criticado (e com razão) processo histórico que separou os brancos dos negros, hoje continua separando os brancos de negros em se tratando de cotas. Então eu te pergunto: Se você é negro, você se considera inferior do que um branco apenas pela sua cor? Se você é branco, você se considera superior a um negro apenas pela sua cor? Estudos comprovam que a cor da pele não interfere em nada no que diz respeito tanto a inteligência quanto ao caráter. Então não é justo segregar.
Sendo branco, negro, amarelo, pardo, vermelho, não importa, somos humanos e devemos ser iguais perante as leis, sem privilégio para um ou outro porque ele é de uma ou outra cor.
Por isso, se eu conseguir minha aprovação no vestibular, será por mérito meu, e não por causa da minha cor. Assim como se eu não conseguir, será por algum erro meu, e não porque sou mais escuro do que alguém. Se auto-declarar pardo ou negro a fim de entrar em uma cota é dizer: “Sou inferior aos outros porque sou negro/pardo, portanto preciso de uma ajudinha para passar”. E isso sim é RACISMO, mas poucos enxergam.
Vamos lutar pela igualdade racial, mas da maneira certa. Sem segregar ainda mais com as cotas, e sim buscando a plena igualdade entre as raças. Não vai ser a cor que vai determinar se alguém merece mais ou não uma vaga do que outro. Enquanto isso não for compreendido, estaremos mais distantes da vitória contra o preconceito e pela igualdade racial.
A luta pela igualdade racial perlonga há séculos. Pessoas engajadas na luta contra a ignorância, quebrando barreiras culturais fortíssimas que desde o período colonial colocam o negro como inferior, somam mais e mais vitórias contra a separação por raças. A vitória de Obama é um exemplo. A imagem abaixo mostra em 1940 que nos EUA os bebedouros eram separados entre os negros (colored) e brancos (white), e hoje o país é comandado por um negro.
Porém, a luta pelo fim da segregação racial ainda não acabou, e é triste ver alguns negros, muitas vezes que se dizem defensores da igualdade racial, se separando dos demais no sistema de cotas. As cotas segregam, é fato. Elas representam um retrocesso na luta pela plena igualdade. Não é o melhor caminho para solucionar um erro do passado, quando os brancos tinham benefícios perante os negros, dando benefícios hoje para os negros frente aos brancos. Isso porque do mesmo jeito que no passado, a separação por raças continua.
O tão criticado (e com razão) processo histórico que separou os brancos dos negros, hoje continua separando os brancos de negros em se tratando de cotas. Então eu te pergunto: Se você é negro, você se considera inferior do que um branco apenas pela sua cor? Se você é branco, você se considera superior a um negro apenas pela sua cor? Estudos comprovam que a cor da pele não interfere em nada no que diz respeito tanto a inteligência quanto ao caráter. Então não é justo segregar.
Sendo branco, negro, amarelo, pardo, vermelho, não importa, somos humanos e devemos ser iguais perante as leis, sem privilégio para um ou outro porque ele é de uma ou outra cor.
Por isso, se eu conseguir minha aprovação no vestibular, será por mérito meu, e não por causa da minha cor. Assim como se eu não conseguir, será por algum erro meu, e não porque sou mais escuro do que alguém. Se auto-declarar pardo ou negro a fim de entrar em uma cota é dizer: “Sou inferior aos outros porque sou negro/pardo, portanto preciso de uma ajudinha para passar”. E isso sim é RACISMO, mas poucos enxergam.
Vamos lutar pela igualdade racial, mas da maneira certa. Sem segregar ainda mais com as cotas, e sim buscando a plena igualdade entre as raças. Não vai ser a cor que vai determinar se alguém merece mais ou não uma vaga do que outro. Enquanto isso não for compreendido, estaremos mais distantes da vitória contra o preconceito e pela igualdade racial.
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31/10/2009 - MUDANÇA, EM PARTES, DE OPINIÃO
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Confesso a todos que desde que fiz a coluna e pesquisei um pouco mais sobre o tema, vi que me equivoquei em determinados pontos. A proposta da EDUCAÇÃO IGUAL e OPORTUNIDADES DE EMPREGO IGUAIS é um pouco útopica e não está nem perto de acontecer no Brasil. Talvez a implantação de COTAS SOCIAIS seria mais justo (pois incluiria brancos prejudicados no acesso a educação e excluiria os negros que não tiverem esse problema), mas que critério seria usado para definir algo com tantas variáveis como a condição social? De fato, para negros realmente é estatisticamente mais difícil de se ter acesso a estudo e trabalho, e contra estatísticas não há o que argumentar. Como vivemos em uma democracia, que teoricamente é regida pela maioria, e a maioria negra precisa das cotas, ao contrário da maioria branca, não há muito que fugir das cotas raciais. Por isso, hoje concluo que SE o governo garantisse a EDUCAÇÃO IGUAL, seria uma solução que segregaria menos, MAS COMO O GOVERNO NÃO GARANTE ISSO, nos resta as cotas, que embora continuo considerando que de certa forma segrega e promove preconceito, é o mecanismo mais 'fácil' para corrigir a injustiça histórica que colocou os negros como inferiores frente aos brancos no passado e ainda hoje trás consequências a ponto de reduzir as possibilidades de estudo e emprego a maioria dos negros.
Em síntese:
- Cota racial não é o ideal, mas é única alternativa que o governo se dispõe a fazer pela causa dos negros, e como algo tem que ser feito, já que de fato há um prejuizo para a maioria das pessoas dessa cor, caímos na situação de 'melhor isso que nada'. Infelizmente.
Consideração final:
- Se você se considera pardo ou negro assim como eu, mas diferente da maioria estatisticamente comprovada não foi prejudicado no acesso aos estudos e mercado de trabalho devido a sua cor, não faça o uso das cotas. Mesmo agora aceitando as cotas (continuo com a opinião de que segrega, mas entendo/aceito), não usaria desse mecanismo. Hoje, considero que o que eu disse sobre usar a cota é se declarar como inferior se aplica exclusivamente a negros ou pardos que não precisam disso, mas usam. Negros ou pardos que realmente precisam e foram prejudicados (a maioria) por um sistema racista devem usar as cotas sim, já que se não temos uma educação igual e um mercado de trabalho com oportunidades iguais independente de cor, temos as cotas como o único mecanismo do sistema para amenizar os efeitos dos erros históricos que prejudicaram os negros e que foram cometidos pelo próprio sistema.
Em síntese:
- Cota racial não é o ideal, mas é única alternativa que o governo se dispõe a fazer pela causa dos negros, e como algo tem que ser feito, já que de fato há um prejuizo para a maioria das pessoas dessa cor, caímos na situação de 'melhor isso que nada'. Infelizmente.
Consideração final:
- Se você se considera pardo ou negro assim como eu, mas diferente da maioria estatisticamente comprovada não foi prejudicado no acesso aos estudos e mercado de trabalho devido a sua cor, não faça o uso das cotas. Mesmo agora aceitando as cotas (continuo com a opinião de que segrega, mas entendo/aceito), não usaria desse mecanismo. Hoje, considero que o que eu disse sobre usar a cota é se declarar como inferior se aplica exclusivamente a negros ou pardos que não precisam disso, mas usam. Negros ou pardos que realmente precisam e foram prejudicados (a maioria) por um sistema racista devem usar as cotas sim, já que se não temos uma educação igual e um mercado de trabalho com oportunidades iguais independente de cor, temos as cotas como o único mecanismo do sistema para amenizar os efeitos dos erros históricos que prejudicaram os negros e que foram cometidos pelo próprio sistema.
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"Eu tenho um sonho de que um dia meus quatro filhos vivam em uma nação onde não sejam julgados pela cor de sua pele, mas pelo seu caráter."
- Martin Luther King
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10 comentários:
Olá, vi seu blog na lista dos Top 100, gostei do nome e vim conferir. E o primeiro post, coincidência, é sobre uma temática que tenho pesquisado. Thiago, antes pensava mais ou menos como você, um pouco menos porque a idade nos deixa mais, digamos, mais cheios de dúvidas sobre tudo, hehehe. Certo é que, quanto mais estudo mais vejo que este tema tem muitas nuances, muitas abordagens, estou escrevendo sobre isto, na verdade, sem conclusão ainda, mas já com muitos elementos a pensar. Depois, se puder, dá uma olhada num vídeo que coloquei no blog sobre o tema. Não sei bem em que postagem está, mas tem o marcador "vídeo do dia", vai achar fácil. Boa sorte no vestibular, viu? E pretendo voltar depois com mais calma e ler mais do seu blog. Bj meu.
Thiago,
Parabéns pela conduta.
Temos que mostrar as pessoas que dizem que são a favor dessa porcaria que nós somos gente como todo mundo.
Ninguém vale 15% ou 30%!
Não sou a favor da cota racial, sou a favor da educação igual. O mesmo nível das escolas particulares deveriam ter as escolas públicas.Mas tenho certeza que essa não é a intenção do governo.Qual o objetivo em ter uma população de cabeças pensantes?Quem eles iriam manipular e vomitar todos os dias com seus atos secretos, castelos, regaliase e afins?Cota por raça é mais uma forma de discriminação, pois sabemos que a maioria negra do país estuda em escola pública com péssima qualidade de ensino e não tem base para entrar em uma universidade pública competindo com aquele que sempre teve o ensino de primeira que a escola particular ofereceu.
Thiago,
Pretos e pardos não conseguem ascender socialmente pq sofrem o efeito da discriminação racial. Por isso, é fundamental garantir-lhes um acesso diferenciado à educação superior, catapulta da mobilidade social no Brasil e no mundo. Dados estatísticos indicam que pretos e pardos em geral têm metade da mobilidade social de brancos que se encontram na mesma condição econômica. Isso se dá graças a um mercado de trabalho discriminador. Basta ir ao Shopping para perceber que os lojistas preferem contratar brancos (de olhos azuis de preferência) pq acreditam q isso gerará menos problemas caso tais vendedores tenham q atender consumidores racistas. Não é uma suposta inferioridade congênita do negro que justifica a cota racial, mas o fato de que ele sofre uma discriminação social que oblitera sua ascensão social. Ficaria muito feliz em conversar mais com vc sobre o assunto, se quiseres...
Concordo com vc, Professora Negra. Em gênero, número e grau.
Essas cotas são apenas para isentar o governo do declínio do ensino público.
Já que, para eles, é mais barato do que investir em educação!
faço minhas as palavras do Luiz Augusto de Souza, as cotas são o uníco meio que o governo achou de ditar a igualdade entre raças, se você tem uma idéia melhor para isso porque você não nos diz? não fica criticando o que nós negros demoramos tanto para conseguir.
MUDANÇA, EM PARTES, DE OPINIÃO
Confesso a todos que desde que fiz a coluna e pesquisei um pouco mais sobre o tema, vi que me equivoquei em determinados pontos. A proposta da EDUCAÇÃO IGUAL e OPORTUNIDADES DE EMPREGO IGUAIS é um pouco útopica e não está nem perto de acontecer no Brasil. Talvez a implantação de COTAS SOCIAIS seria mais justo (pois incluiria brancos prejudicados no acesso a educação e excluiria os negros que não tiverem esse problema), mas que critério seria usado para definir algo com tantas variáveis como a condição social? De fato, para negros realmente é estatisticamente mais difícil de se ter acesso a estudo e trabalho, e contra estatísticas não há o que argumentar. Como vivemos em uma democracia, que teoricamente é regida pela maioria, e a maioria negra precisa das cotas, ao contrário da maioria branca, não há muito que fugir das cotas raciais. Por isso, hoje concluo que SE o governo garantisse a EDUCAÇÃO IGUAL, seria uma solução que segregaria menos, MAS COMO O GOVERNO NÃO GARANTE ISSO, nos resta as cotas, que embora continuo considerando que de certa forma segrega e promove preconceito, é o mecanismo mais 'fácil' para corrigir a injustiça histórica que colocou os negros como inferiores frente aos brancos no passado e ainda hoje trás consequências a ponto de reduzir as possibilidades de estudo e emprego a maioria dos negros.
Em síntese:
- Cota racial não é o ideal, mas é única alternativa que o governo se dispõe a fazer pela causa dos negros, e como algo tem que ser feito, já que de fato há um prejuizo para a maioria das pessoas dessa cor, caímos na situação de 'melhor isso que nada'. Infelizmente.
Consideração final:
- Se você se considera pardo ou negro assim como eu, mas diferente da maioria estatisticamente comprovada não foi prejudicado no acesso aos estudos e mercado de trabalho devido a sua cor, não faça o uso das cotas. Mesmo agora aceitando as cotas (continuo com a opinião de que segrega, mas entendo/aceito), não usaria desse mecanismo. Hoje, considero que o que eu disse sobre usar a cota é se declarar como inferior se aplica exclusivamente a negros ou pardos que não precisam disso, mas usam. Negros ou pardos que realmente precisam e foram prejudicados (a maioria) por um sistema racista devem usar as cotas sim, já que se não temos uma educação igual e um mercado de trabalho com oportunidades iguais independente de cor, temos as cotas como o único mecanismo do sistema para amenizar os efeitos dos erros históricos que prejudicaram os negros e que foram cometidos pelo próprio sistema.
Maior injustiça isso, sendo que pregam que somos todos iguais. É preciso levar em consideração que também existem brancos que vivem com baixa renda, e que lutam para conquistar um lugar em instituições federais.
O fato de passar ou não no vestibular é mérito do esforço de cada um e não da cor e condição sosial. Portanto ao aceitarmos cotos para negros, admitimos que os negros são inferiores intelectualmente em relação aos brancos.
desculpem pelos erros na postagem 15 de janeiro de 2010 10:12.
Errata 1: social escreve-se com c
Errata 2: no lugar de cotos leiam cotas
Cotas são injustas:
TODOS OS HOMENS NASCEM LIVRES E IGUAIS EM DIREITO. (constituição dos EUA)
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