MAÍSA NÃO RETRATA A SITUAÇÃO REAL DAS CRIANÇAS NO BRASIL

Por Ramon Cotta
email: ramon_cotta@hotmail.com

Maísa foi espancada por Sílvio Santos. Maísa está trabalhando com uma jornada grande de horas e não está na escola. Maísa é explorada pelos pais. Isso não aconteceu, mas pelo estralhaço que o caso Maísa está rendendo nos parece que a história verdadeira é essa. Selecionei alguns nomes que aparecem no meio das matérias que estão sendo publicadas sobre o ocorrido: 'O Conselho Tutelar', 'Ministério da justiça', 'O Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Paulo', 'Secretaria Nacional de Justiça', 'Ministério Público Estadual (MPE)', 'Promotoria Estadual da Infância e da Juventude de Osasco', 'O Procurador Regional dos Direitos do Cidadão'. Todos estes órgãos estão focados para ajudar a menininha engraçada, espontânea, que está ganhando um salário de 20 mil, trabalhando nos finais de semana, tirando boas notas na escola, que afirma que seu sonho é ser apresentadora e que nas semanas atrás chorou por que assustou com garoto vestido de monstro e bateu sem querer a cabeça numa câmera no estúdio. Maisinha está proibida de gravar ao lado de Silvio Santos, porque a justiça mandou por entender que Maisa teria sido submetida a situações que ferem o Estatuto da Criança e do Adolescente e "nas referidas situações, a menina, de sete anos, é exposta a situações 'constrangedoras ou degradantes' que seriam agravadas pelo fato de se tratar de uma criança". Sílvio Santos exagerou com a menina, isto é fato. Às vezes muitas pessoas e o próprio apresentador esquecem que a garota tem apenas sete anos de idade. Apesar de ser precoce, esperta e muito inteligente ela é apenas uma criança, e tem o direito de ter ‘manias’ e ‘chatices’ que qualquer um da idade dela tem. De fazer manha, chorar e se assustar com um garoto vestido de monstro. Mas Sílvio não é um vilão, um explorador de criancinhas. Em minha opinião este assunto rendeu mais do que era pra render. Maísa não foi espancada, explorada ou maltratada. No domingo Maísa chorava, na mesma semana procuradores, advogados, defensores fizeram de tudo para defender a pobre garota. E pelo jeito estão conseguindo. Como seria maravilhoso se isso acontecesse nos casos que realmente ferem o Estatuto da criança e adolescente. De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): no ano de 2006, 53 mil menores de 13 anos trabalhavam no Estado de São Paulo e 20% das crianças e adolescentes não freqüentavam a escola. Mais de seis mil crianças são vítimas do trabalho infantil no Distrito Federal. Se nós formos num lixão, ou em qualquer semáfora de uma grande cidade, vamos ver crianças trabalhando. Mesmo proibido por lei, aproximadamente 3,5 milhões de menores de 14 anos trabalham no Brasil. A maioria ganha menos de meio salário mínimo. Muitos são escravos em carvoarias, canaviais e fazendas. Grandes empresas nacionais e multinacionais lucram com a exploração infantil e o trabalho escravo. Crianças que não estão na escola e trabalhando, isto sim ferem o estatuto dos direitos das crianças e adolescentes. Estes órgãos citados acima estão querendo mostrar trabalho para mídia, para gente. As crianças das fotos abaixo, elas sim precisam de ajuda, de defesa. E não a Maísa, que por enquanto tem um lar, uma família, escola e um trabalho que ela realmente gosta e faz por prazer.

O exagero sobre o caso da garota está demais, mas não é igual o exagero da realidade sobre a situação das crianças no Brasil.