O 33º príncipe de Rajpipla, herdeiro de uma linhagem indiana de 600 anos, estava trajado dos pés à cabeça como marajá e suas joias brilhavam ao sol. Tímido, ele sorria para os travestis e repórteres que o cercavam e parecia paralisado pela música eletrônica e pela multidão, estimada em 3 milhões de pessoas. Muito magro, moreno e comprido, uma espécie de Dom Quixote oriental, o príncipe Manvendra Singh Gohil havia se convertido em atração da 13ª Parada Gay de São Paulo, realizada no domingo 14 de junho. O convite para vir ao Brasil partiu de Douglas Drumond, um empresário brasileiro da hotelaria e ativista gay. Drumond procurou o príncipe na Índia porque ele já era uma celebridade na comunidade gay globalizada. No início deste ano, Gohil participou de um reality show da BBC britânica – The undercover princes, os príncipes disfarçados – no qual se passava por plebeu e tinha de arrumar namorado. Antes disso, fora entrevistado no programa de Oprah Winfrey, em outubro de 2007, por conta de sua homossexualidade. “Foi a primeira vez que alguém da nobreza indiana declarou-se publicamente homossexual”, diz o príncipe, num inglês carregado de sotaque indiano. O caso repercutiu em todo o país. Embaraçados, seus súditos queimaram bonecos com seu nome pelas ruas de Rajpipla, uma cidade de 40 mil habitantes no Estado de Gujarat, na fronteira com o Paquistão. Os parentes tentaram caçar seu título de príncipe herdeiro e deserdá-lo. Não funcionou. Ao final, diz Gohil, com gestos tranquilos, tiveram de aceitá-lo. “Em meu país é crime dois homens praticarem sexo, mas a lei não diz nada sobre ser homossexual”, afirma. O príncipe tem 43 anos e conta sua história com certo fatalismo. Aos 26 anos, ele casou-se com uma moça também da nobreza. O casamento foi anulado 15 meses depois, por ausência de intercurso carnal. “Eu não sabia que era gay. Não sabia nada sobre essas coisas”, diz ele. O casamento foi sua hora da verdade. Em 2002, a pressão para que ele voltasse a casar – e produzisse um herdeiro – acabou no que ele chama de “colapso nervoso”. O príncipe foi internado numa clínica psiquiátrica por duas semanas e os médicos fizeram ver a seus pais que sua inclinação sexual era irreversível. Daí até assumir publicamente, em 2005, foi um passo. “Eu não queria viver cercado de mentiras e fofocas”, diz ele. No domingo passado, em São Paulo, Gohil parecia à vontade com a exuberância dos brasileiros. Enquanto caminhava pelas ruas adjacentes à Parada Gay, as pessoas lhe dirigiam saudações indianas – as palmas das mãos juntas e uma ligeira inclinação da cabeça para baixo – e gritavam Hare baba! Hare baba! É a exclamação de espanto popularizada pela novela Caminho das Índias, da TV Globo. Um projeto é orientar um filme sobre sua vida, que está a cargo de um nobre indiano simpatizante do movimento gay (o.k., há 500 famílias nobres na Índia...). O outro projeto é a adoção de um filho, que daria continuidade à linhagem de Rajpipla. “Adoção é um costume comum na Índia”, diz ele. “Acho que ninguém vai me criar problemas.”HARE BABA: PRÍNCIPE INDIANO VEIO AO BRASIL PARA IR A PARADA GAY
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sábado, 20 de junho de 2009
O 33º príncipe de Rajpipla, herdeiro de uma linhagem indiana de 600 anos, estava trajado dos pés à cabeça como marajá e suas joias brilhavam ao sol. Tímido, ele sorria para os travestis e repórteres que o cercavam e parecia paralisado pela música eletrônica e pela multidão, estimada em 3 milhões de pessoas. Muito magro, moreno e comprido, uma espécie de Dom Quixote oriental, o príncipe Manvendra Singh Gohil havia se convertido em atração da 13ª Parada Gay de São Paulo, realizada no domingo 14 de junho. O convite para vir ao Brasil partiu de Douglas Drumond, um empresário brasileiro da hotelaria e ativista gay. Drumond procurou o príncipe na Índia porque ele já era uma celebridade na comunidade gay globalizada. No início deste ano, Gohil participou de um reality show da BBC britânica – The undercover princes, os príncipes disfarçados – no qual se passava por plebeu e tinha de arrumar namorado. Antes disso, fora entrevistado no programa de Oprah Winfrey, em outubro de 2007, por conta de sua homossexualidade. “Foi a primeira vez que alguém da nobreza indiana declarou-se publicamente homossexual”, diz o príncipe, num inglês carregado de sotaque indiano. O caso repercutiu em todo o país. Embaraçados, seus súditos queimaram bonecos com seu nome pelas ruas de Rajpipla, uma cidade de 40 mil habitantes no Estado de Gujarat, na fronteira com o Paquistão. Os parentes tentaram caçar seu título de príncipe herdeiro e deserdá-lo. Não funcionou. Ao final, diz Gohil, com gestos tranquilos, tiveram de aceitá-lo. “Em meu país é crime dois homens praticarem sexo, mas a lei não diz nada sobre ser homossexual”, afirma. O príncipe tem 43 anos e conta sua história com certo fatalismo. Aos 26 anos, ele casou-se com uma moça também da nobreza. O casamento foi anulado 15 meses depois, por ausência de intercurso carnal. “Eu não sabia que era gay. Não sabia nada sobre essas coisas”, diz ele. O casamento foi sua hora da verdade. Em 2002, a pressão para que ele voltasse a casar – e produzisse um herdeiro – acabou no que ele chama de “colapso nervoso”. O príncipe foi internado numa clínica psiquiátrica por duas semanas e os médicos fizeram ver a seus pais que sua inclinação sexual era irreversível. Daí até assumir publicamente, em 2005, foi um passo. “Eu não queria viver cercado de mentiras e fofocas”, diz ele. No domingo passado, em São Paulo, Gohil parecia à vontade com a exuberância dos brasileiros. Enquanto caminhava pelas ruas adjacentes à Parada Gay, as pessoas lhe dirigiam saudações indianas – as palmas das mãos juntas e uma ligeira inclinação da cabeça para baixo – e gritavam Hare baba! Hare baba! É a exclamação de espanto popularizada pela novela Caminho das Índias, da TV Globo. Um projeto é orientar um filme sobre sua vida, que está a cargo de um nobre indiano simpatizante do movimento gay (o.k., há 500 famílias nobres na Índia...). O outro projeto é a adoção de um filho, que daria continuidade à linhagem de Rajpipla. “Adoção é um costume comum na Índia”, diz ele. “Acho que ninguém vai me criar problemas.”
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